quinta-feira, 13 de setembro de 2012

desconfortavelmente normal



   É com dor no coração que eu me encontro no estado vegetativo da vida. Acordei e me vi normal. Estou congelada com a maioria, vivendo o dia-a-dia com rotinas descartáveis.
   Levantei e investiguei o meu guarda-roupa, que há um tempo anda sem brilho. Onde foram parar minhas roupas cheias de atitude, que falavam por mim? Todas as pilhas de camisetas e cabides me parecem mudos. Visto a escolhida, que não faria diferença, se fosse essa ou outra qualquer. Me sinto Bege, nude, transparente e ainda mais normal.
   Dia de aula normalmente chata, absorvo cada palavra que não me interessa. Observo e registro cada traço.
   Ao encontrar a multidão, me sinto totalmente encaixada , não há olhares de reprovação, tão pouco ruídos e cochichos. Uma correria normal. Algo realmente me incomoda nesse contexto que nunca foi meu.
Hora do almoço e o dia já está curto para minha rotina ainda não cumprida. Quarta-feira é dia especial de arroz com feijão. Sem sal. Comida engolida, não há o que degustar. Onde estão as refeições com conversas e risadas? Comida costuma ser apenas uma desculpa para reunir o bando e se divertir.
   Em casa, a roupa todo dia suja, lava, seca e suja, lava, seca. O chão suja, limpa, suja, limpa. Um ritual incansável. Esse looping infinito de organização persegue meu tempo.
   Metade do resto do tempo pertencem ao meu futuro. Futuro esse, que não chega, mas há anos tenho me dedicado a ele.  Estudos e trabalhos. Tudo para o prometido, que está por vir.
   O telefone toca, hora de resolver os problemas, aqueles que todos possuem. Um desespero comum. Faço dramas normais, exijo a tabelinha de obrigações que o tipo de relacionamento propõe. Todas as interações são iguais.
    Nas redes sociais está tudo normal. Pessoas falam sobre nada achando que estão dizendo tudo. Não me atormenta a vontade de fazer diferença por lá.
   Os banhos agora servem apenas para limpar. Não há mais devaneios e epifanias que costumavam inundar minha imaginação, nessa hora, que me era puro lazer. 
   Mais um dia acabou, o sono vem fácil, nada de complicado ou extraordinario que me faça ter algum tipo de insonia. Nenhum pesadelo, alem daquele de acordar no outro dia e perceber que ainda  permaneço normal.

3 comentários:

  1. Eu, esmiuçado em palavras. A cópia, da cópia, da cópia. Apenas viver. Não vou te parabenizar pelo life style atual, mas por conseguir descreve-lo.
    Sempre te admirei, desde as antigas.vlw!

    bjao!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Podes apenas me revelar, quem és tu?

      Excluir
    2. Sei lá. Com certeza não irá mudar muita coisa vc saber ou não.
      Mas... por hora, deixarei assim. :D

      bjao!

      Excluir