terça-feira, 19 de abril de 2011

aquele piso horrível



Eram apenas meus pés, o vento, uns três tipos de piso, a música que de tão baixa parecia estar apenas no canto do pensamento e a maldita gravidade.
É como se você soubesse que você só tem um gole d'agua para poder fazer parar o soluço e aquilo tem que funcionar. Porém o caso não era apenas um incomodo soluço, era vida ou morte. É aquela linha que separa sua ultima visão do mundo com a sua primeira certeza de estar no limbo. Ela é muito mais fina do que eu imaginava. Ela é fina, fria e parece impossível prever quando você estará do outro lado. Pensei pelo melhor lado, pelo menos eu a estava vendo, já ouvi falar de pessoas que nem tiveram tempo de vê-la. Só não sei como elas contaram isso estando lá, onde quer que lá seja.
Mas já pode parar de se preocupar, eu não cheguei tão perto da linha, entretanto encara-la talvez seja morrer pela metade, para depois viver em dobro.
Agora voltando para os pés, o vento, o piso disforme, o solo de guitarra e a gravidade. Eis que de todos, o meu maior dos meus problemas era a gravidade.
Não que o chão remendado não me incomodava, mas em certos momentos da vida, alguma coisas simplesmente não parecem incomodar tanto. Simplesmente assim, por uma razão explicável, mas que não cabe a mim descrever agora. Apenas se imagine em um deserto morrendo de sede e a única água que tu encontra... tem uma mosca lá, nadando por toda ela. Não tenho duvidas que tu tiraria a mosca respeitosamente e beberia a agua desesperadamente. Porém se houvesse uma mosca boiando em sua água enquanto tu estivesse no conforto de sua casa, você não seria tão respeitoso com a pobre da mosca, nem com a agua dentro do copo, quando jogasse ambos fora pelo ralo. Acho que tu alcança pelo menos o mais baixo nível da inteligência para entender o porque das coisas se tornarem quase, eu disse quase, irrelevantes em certos momentos. Digo quase porque aquele piso realmente me irritava. Céus!
A gravidade, como se livrar dela? Me chame de louca, mas essa pergunta passou mesmo pela minha cabeça em um segundo ou dois. Já que não poderia me livrar dela, como então lidaria com ela? Ela estava lá e eu tinha que fazer algo sobre isso, e logo. Talvez eu tivesse lido teorias demais e estava na pratica sedentária. Força e disposição não eram exatamente coisas com as quais eu poderia contar.
Talvez eu pudesse enganar a força física por um estante, mas não creio que a gravidade seja algo tão físico assim para ser trapaceada. Havia apenas uma única solução, deixar ela atuar sobre mim, mais do que já vem atuando a minha vida toda, a vida do universo inteiro.
Que maldita gravidade com mania de controlar tudo. Era isso, tinha que deixar ela atuar.
Então outra coisa entra nesse cenário que não é dos mais interessante. Essa outra coisa é conhecida por medo, ou a mais pura covardia se preferir. Agora eu tinha a pergunta certa a ser feita. Como transformar o medo em coragem?
Essa vida sem adrenalina que quando agita um pouco se estremece dos pés à alma.
Lá estava eu, com o medo, meus pés, aquele chão horrível, o vento que não para de ventar, a gravidade . E, caramba, o solo daquela musica era realmente bom.
Tu já viveu algum momento da sua vida que ficou congelado pelo medo?? Isso era exatamente o que eu temia naquele momento. Medo de sentir medo, aquele medo em especial. Queria aquele tipo de medo que faz você agir no desespero. Mas acho que chamam isso de extinto de sobrevivência. Pra mim ainda é medo, medo de morrer. Enfim, seja lá o nome, era isso que queria no momento.
Tudo que eu já havia lido parecia ser tão utópico. Era impossível eu conseguir me mexer naquele momento. Mas então o tempo estava acabando, era o ultimo refrão da musica. tudo parecia girar, e o mundo que deveria estar na maldita órbia parecia estar parado.
Era isso. Eu só precisava acreditar na pausa da gravidade. Tudo estava apenas ali. Na minha cabeça.
Bem, isso era apenas mais uma teoria bem suspeita. Era um teoria suspeita e tudo o que eu tinha. Chega de pensar.
Pulei.


Acordei.
Foi só um sonho. Claro que foi só um sonho. Cenas assim não acontecem na vida real. Era só um sonho. Meu maior problema ainda era aquele piso mal feito. O que eu ia fazer com ele?
Sei lá, por um tapete talvez.
Mas, agora eu só queria continuar ouvindo em alto e bom som, o ultimo riff da guitarra.

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